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Foto Carlos Urbim

 

 

 


Notícias

Homenagem do Instituto de Letras da UFRGS e da Academia Rio-grandense de Letras a Carlos Urbim

No início do mês de abril de 2015 o Instituto de Letras da UFRGS realizou homenagem a Carlos Urbim. Segue abaixo o texto lido pela diretora do Instituto de Letras da UFRGS, Jane Tutikian em homenagem a Carlos Urbim.

 

Sessão Solene da Academia Rio-Grandense de Letras

Saúdo ao Presidente da Academia Rio-grandense de Letras, Prof. Sergio Borja, e ao saudá-lo saúdo a todos os confrades.

Uma saudação especial àjornalista  Alice Urbim, esposa do Carlos, que muito nos honra com sua presença.

Colegas professores e estudantes

Srs e Sras.

            É movida pela emoção e pela honra que faço em nome do Instituto de Letras e da Academia Rio-grandense de Letras esta homenagem ao escritor Carlos Urbim.

            Jornalista e escritor, Urbim  nasceu em Santana do Livramento em 4 de fevereiro de 1948. Nasceu na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguaie trouxe-a consigo, como o caracol carrega a própria casa, trouxe a fronteira consigo quando se mudou para Porto Alegre aos 19 anos para cursar a FABICO  nesta Universidade.

            Trabalhou na área do jornalismo por 33 anos. Foi durante dez anos editor de cadernos do jornal Zero Hora (Segundo Caderno, Vida, Revista ZH e Caderno de Cultura).Foi dele a criação de um suplemento lindo, para as crianças, o ZéH Infantil, que quando terminou nos deixou órfãos e os então estudantes de Letras, nossos alunos, fizeram um abaixo-assinado pedindo a volta do ZéH àdireção da RBS. Foram quase 3000 assinaturas.

            Atualmente era editor do Departamento de Multimídia de História da Rede Brasil Sul de Televisão/RBS TV e desenvolvia pesquisa e produção de textos para documentários e programas especiais.

            E foi, acima de tudo, autor de verdadeiros clássicos da literatura infantil gaúcha.

            Para explicar o escritor do presente, Carlos Urbim expunhasua história de tempos passados: o guri de Livramento, o filho de Marino e Amália, o enteado de Paulo, o irmão de Soelci, Paulo, Orlando e Maria Aurora.Urbim sempre   buscou no menino do passado a explicação, a justificativa e a gênese do homem que se tornou, e essa busca é realizada num tom literariamente afetivo, bem-humorado, porque eles dialogaram constantemente.

            "Esse olhar dos meus livros ainda éo olhar do guri que eu fui láem Livramento " disse ele em uma entrevista. "O guri das brincadeiras de rua, do  carrinho de lomba e  das pipas."

             Menino-adulto e adulto-menino, a verdade éque Urbim sempre foi fiel ao menino que seria seu companheiro de criação literária. Na  mesma medida em que o homem se reconhecia no guri, o guri dos livros carregava e carrega consigo a alma do homem. E essa é, por ventura, a grandeza da sua criação literária: ela não morre. O guri que atravessa seus livros continua existindo e fazendo com que o adulto escritor exista cada vez que alguma criança, em alguma hora, em algum lugar, tiver a felicidade de abrir um livro seu.

            Os avós, a mãe Amália, telefonista , o  pai Marino,taxista,  depois o  padrasto, Paulo, o guarda-livros da Gapazina, tiveram importante influência na vida do meninoCarlos. Éque, explicou Urbim, "Os adultos tinham disponibilidade para contarhistórias. Frio de rachar, o minuano gemendo por todas as frestas, a gente na cozinha em torno do fogão, e as histórias iam se sucedendo. Ou calorão no pampa, e então pegava-se a fresca. Levávamos as cadeiras para a frente da casa. O sarau se prolongava atéuma, duas da madrugada. E a gente sentadinho ali ouvindo causos, anedotas, lendas. A gente ia dormir apavorados de medo do homem da capa preta, da mula sem cabeça, de entrar na caverna da Salamanca do Jarau. "

            Mas, talvez, nenhuma influência tenha sido maior do que a do Emiliano e do Glauco, os filhos. Urbim se emocionava ao confessar :  "Foi a partir do convívio com meus filhos, de contar histórias ànoite para eles dormirem, que nasceu a vontade de escrever."

            Quando perguntado sobre sua  referência de artista, de magia da arte em Livramento, a resposta foi "O Biduca, o teatro da fronteira, um circo-teatro simples, pobrinho, com cadeiras coloniais. Biduca era o líder da uma trupe. Ficava um tempo em Livramento e depois desaparecia e se apresentava em Quaraí, Dom Pedrito, Bagé. Apresentava A Canção de Bernadete, A Vingança do Judeu, Deus lhe Pague. Eu morava na frente da Praça Getúlio Vargas"

            Para além de Biduca, sua grande referência literária era o poeta Mário Quintana. Urbim sabia exatamente o que queria de um texto: ao escolher escrever para crianças, buscou a simplicidade aliada àgraça, ao humor. O grande mestre disso no Rio Grande do Sul,disse tantas vezes, "éMario Quintana. Ele soube ser profundo com uma singeleza comovente. A poesia dele para as crianças tem o olhar moleque da poesia. Éimpressionante o exercício de texto em O Batalhão das Letras, um poema para cada letra do alfabeto."

            Como Quintana, Urbim com simplicidade, soube ser profundo com uma singeleza comovente. Como a poesia de Quintana, o texto de Urbim para crianças têm o olhar moleque da poesia. Como o mestre Quintana, Urbim foi um artesão da palavra. Mas como Urbim, Urbim foi único.

            A estréia do guri de Livramento, na literatura, aconteceu em 1984, com Um guri daltônico. E eu estava lá. O livro, hoje um clássico da literatura infantil gaúcha, contacom bom-humor a história de Dadau, um menino que, diferente da maioria, não consegue diferenciar o verde do vermelho, e tem ideias criativas para superar as dificuldades. Éum livro autobiográfico, diria depois, Urbim. E a gente, que estava lá, ganhava o autógrafo, o sorriso do menino homem e, ainda por cima, o desenho de uma pipa.

            Em seguida, apenas três anos depois, um outro clássico, Uma graça de traça, a  história de Biblió, uma traça que prefere ler livros a comê-los.A partir daí, a produção sófez aumentar e sempre com muita qualidade.Em 1992,  foi a vez de Diário de um Guri.A partir dos versos de Urbim e da ilustrações de Eloar Guazzelli, o livro recria o diário de um menino,registrando situações marcantes da infância, como as férias na praia, o Natal, o aniversário, o início das aulas...

            Em 2005, Urbim surpreende com Bolacha Maria, que propõe um retorno afetivo àinfância pelo paladar. São poemas, que falam de um garoto que se delicia com amendoim, pipoca e coquinhos, caldo de feijão, mas também precisa tomar os remédios amargos, "preparando-se para a vida e a dificuldade de engolir as perdas."

            Também de 2005, éo de PiáFarroupilha,  a história se passa em 1839, durante a Revolução Farroupilha. Deixado sozinho em um acampamento pelo pai com quem viaja pelo Rio Grande, Carlos, um dos personagens mais conhecidos de Urbim,é"espreitado por um grupo de atrapalhados urubus enquanto recebe a visita esporádica de viajantes que cruzam pelo lugar."

            Uma "tartaruga gringa que adora polenta", uma "prenda rosa cor-de-cuia" e "botos que ouvem histórias de pescador em Tramandaí"são alguns dos personagens que Urbim cria para as histórias de Na Noite Estrelada, que "remetem a regiões e tradições gaúchas, compondo um painel de algumas das principais culturas que formam o Rio Grande do Sul, da Fronteira ao Litoral, passando pela colonização alemãe do Vale dos Sinos, pelas tradições italianas da Serra Gaúcha e pela Guerra dos Farrapos."

            Inquieto, não bastava a ele  brincarsério de escritor24 horas por dia,  e, um dia, resolveu produzir o livro,dos desenhos ao tipo de capa. Se dizia  apenas um artesão bem amador, que gostavade inventar coisinhas, mas soube aproveitaresse dom  para criarbelas  ilustrações para o livro Na Noite Estrelada, com galhos, porongos, pedras, bolas de gude depois fotografadas por Luiz Eduardo Achutti.

            São 19 livros para crianças, que ficam para as crianças do mundo e para o neto, Miguel.

            Para adultos, escreveu: Rio Grande do Sul, Um Século de História,volumes 1 e 2;Os Farrapos;Zamprogna: a história da imigração italiana e a industrialização no Rio Grande do Sul; Morro Reuter de A a Z.

            Seus livros resultaram em vários prêmios como: Diploma de Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil, por Saco de Brinquedosem 1997;  Troféu Top de Marketing da ADVB-RS em 1999 por Rio Grande do Sul, Um Século de História I;  Prêmio Açorianos de Literatura 2001, categoria especial, por Rio Grande do Sul, Um Século de História - I e II; Prêmio O Sul-Nacional categoria infantil em 2004, pelo livro Goma Arábica; Prêmio de Excelência Gráfica 2005, categoria infantil, por Bolacha Maria; Troféu de livro infantil do ano de 2006 da Associação Gaúcha de Escritores, por Bolacha Maria; e o prêmio mais importante da literatura brasileira, o Prêmio Jabuti  por Na noite estrelada.

            Uma das grandes alegrias de Carlos Urbim foi ter dado seu nome àbiblioteca da Escola Municipal Rui Barbosa - Walachai.

            Talvez 2009 tenha sido o seu grande ano como escritor. Disse ele "Estou me sentindo muito honrado porque 2009 foi especial para mim. No dia 28 de maio, tomei posse na Academia Rio-Grandense de Letras, na cadeira de Alceu Wamosy. E meu nome foi confirmado como patrono da Feirado Livro de Porto Alegre de número 55.  alegria também pela reedição de Um Guri Daltônico, meu primeiro livro, em edição comemorativa dos 25 anos."

            Para Carlos Urbim, a escrita é sempre um ato de amor e o escritor escreve a fim de dar alguma coisa a alguém. Para ter outras pessoas compartilhando suas experiências e seussentimentos. Este problema de quanto tempo o seu trabalho pode sobreviver éfundamental para cada escritor. (...)ele espera que nos próximos três mil anos as pessoas ainda possam ler esse livro. “Éexatamente como vocêespera que seus filhos sobrevivam a você, e que se vocêtem um neto que ele sobreviva a seus filhos.”-  assegura  Umberto Eco - "Espera-se  um sentido de continuidade.”

            Um sentido de continuidade que, certamente, Carlos Urbim já tem asseguradopor Alice, por Emiliano, por  Glauco, pelo  neto, o pequeno Miguel e por todas as crianças que  tiverem a felicidade e a alegria de ouvir as histórias sempre tão humanas e ternas de Urbim.

           Permitam-me contar-lhes uma cena: Urbim e eu viajamos várias vezes juntos pelo interior, porque fazíamos parte de alguns projetos, como o Autor Presente, do Instituto Estadual do Livro. Numa dessas viagens, fomos a Teotônia. Como a minha palestra terminou antes da dele, fui assisti-lo. Entrei no pavilhão de esportes da prefeitura e láestava Urbim rodeado de crianças pequenas. Todas falavam e pulavam e perguntavam ao mesmo tempo e ele conseguia responder a cada uma com perguntas divertidas que, divertidas, elas respondiam juntas, atéque uma menina pequenina, loirinha, levantou a mão. O Urbim percebeu que ela queria fazer uma pergunta e pediu silêncio. Ela perguntou: - Tio, tu és fora da casinha ?

            Eu comecei a rir e a gargalhada do Urbim foi fantástica, como um estrondo! Ecoando pelo pavilhão. Os olhos do escritor brilharam: - Eu sou e tu? A pequeninha disse: eu também, e correu para abraçar os braços jáabertos do Urbim.

            A partir daífoi uma sequência de "eu também". E Urbim sumiu no abraço das crianças de Teotônia. Foi lindo! Emoção pura. Urbim era assim com as crianças e essa era a sua magia: ser sempre de igual para igual, simples, feliz, puro afeto.

            Querido amigo Carlos Urbim, este éo reconhecimento da Academia Rio-grandense de Letras e deste Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul pela tua generosidade de oferecer aos teus leitores o melhor de ti.

            Éo nosso agradecimento pelos ensinamentos de que a verdadeira felicidade éa simplicidade e o respeito àcriança que temos todos dentro de nós, e às crianças com quem nos encontramos.

            É o nosso agradecimento pelo ensinamento de que vida ésinônimo de inquietude, o nascedouro de tudo.

            É o nosso agradecimento pela obra que deixaste e o nosso agradecimento por nos teres permitido a nós, teus amigos, teus colegas, teus leitores de todas as idades, por nos teres permitido compartilharmos desta fascinante, alegre e terna  aventura literária com que hoje se traduz  tua obra e tua vida.

 

 

Jane Tutikian

2015

 

 

 

Presidente da Academia Rio-grandense de Letras, Prof. Sergio Borja e Jane Tutikian

O Coral do Instituto de Letras da UFRGS homenageia Carlos Urbim

Aliece Urbim e Jane Tutikian

 

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